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Religiosidade

Religiosidade - Foto/Reprodução: Aratu Online
Religiosidade - Foto/Reprodução: Aratu Online

Assim como em outros aspectos, a religiosidade encontra-se na Bahia caracterizada por uma variedade de religiões, seitas, igrejas, templos, terreiros, crenças separadas ou totalmente misturadas. Na Bahia é cena comum uma filha-de-santo rezando ao Senhor do Bonfim(Oxalá) ou um católico oferecendo caruru aos Ibejes (São Cosme e Damião). É o sincretismo religioso tão presente nas festas dos santos católicos, sinais de um tempo em que negros disfarçavam o culto a seus deuses.

Segundo Verger(1992), é difícil precisar o momento em que o sincretismo se estabeleceu no país ou mesmo na Bahia. É certo que os santos católicos e os deuses africanos se aproximaram cada vez mais devido a características físicas ou comportamentais. No entanto, as razoes para tal mistura de símbolos parecem ter sido diversas e benéficas ora aos brancos católicos, ora aos negros animistas.

Ainda escravos, os negros baianos eram proibidos de cultuar seus deuses, no entanto, podiam realizar manifestações culturais como o canto e a dança africanas. Para os senhores, tais manifestações não passavam de diversão e nostalgia. Para a igreja católica, exposição de primitivismo inofensivo. Para o estado algo que mantinha separada as nações e controladas as revoltas, já que as reuniões eram de grupos de origem diferentes. No entanto, para os negros, era a manifestação livre de sua religiosidade e de culto aos seus deuses.

Logo que a igreja católica entendeu o sentido das reuniões festivas e passou a ameaçar sua realização, os negros começaram a justificar seus atos como forma africana de cultuar os santos católicos e trataram de atribuir a cada deus africano um correspondente europeu. Aos olhos da igreja, os africanos se convertiam, mas, na verdade, os negros utilizavam os santos católicos para disfarçar deuses africanos aos quais realmente rendiam cultos. Com o passar do tempo, os benefícios dessa mistura superaram os interesses cristãos e o sincretismo passou a ser aceito e até incentivado pelos senhores de escravos.

Ao contrario do esperado, os hábitos religiosos africanos aos poucos modificaram o próprio catolicismo, influenciando a forma de culto e misturando nomes e características de santos e deuses, o que é tolerado, até certo ponto, pela igreja católica baiana. Os negros continuam a cultuar seus deuses, havendo para muitos praticantes a diferença entre deuses e santos. Na Bahia é comum ir ao terreiro e à igreja. Brancos, negros, mulatos, pobres ou ricos, acreditam nos princípios católicos e do candomblé, ao mesmo tempo. O sincretismo há muito estabelecido mantem-se e são comuns em festas católicas as manifestações das religiões africanas. Para a maioria dos baianos, não há festa do Senhor do Bonfim sem missa solene e banho de pipoca nas escadarias da igreja. Por sua vez, os barracões de candomblé possuem sempre um altar com imagens de santos católicos.

Não só com o catolicismo o candomblé se combinou e absorveu conceitos. Houve, mais recentemente, segundo Carneiro(1977) a mistura do candomblé com o espiritismo que resultou nas chamadas 'sessões de caboclo' comuns aos terreiros de todo o Nordeste inclusive Bahia. No entanto, a Bahia de todas as crenças já foi muito diferente! A Bahia encontrada pelos portugueses não era católica, protestante, espírita ou animista. Era sim marcada pela crença em um mixto de lendas criadas pelos índios, donos das terras, baseadas nas entidades naturais que explicavam a vida, a morte, a doença, a cura, as desgraças, as alegrias.

Não haviam deuses e deusas nas crenças dos povos indígenas e, as vezes, fatores importantes como o surgimento do sol, da terra, das estrelas ou da água não tinham resposta. O próprio Tupã ou Tupana parece ter sido criado por influencia dos jesuítas que o comparavam ao Deus católico. Segundo Ott(1995), alguns grupos indígenas não possuíam culto religioso nenhum, a sua espiritualidade podia ser observada apenas por suas lendas e histórias que respondiam as grandes questões filosóficas ou existenciais que perturbam todo ser humano seja qual for sua origem, língua ou crença.

Desrespeitando o credo indígena, a Bahia como todo o Brasil foi colonizada não só pelo estado português, mas pela igreja católica. Assim, o Brasil nasceu católico para os europeus e foi o catolicismo que imperou na Bahia por muitos anos. Com a chegada dos escravos africanos as religiões negras passaram a competir pelos fiéis mestiços. Com o tempo varias religiões e seitas chegaram ao Brasil, principalmente junto com os diversos imigrantes que desembarcaram aqui. Atualmente a Bahia possui grupos das mais diversas religiões e fieis que conseguem conviver com mais de uma delas. Bom exemplo são as Damas da Boa Morte, filhas e mães-de-santo que cultuam Nossa Senhora da Boa Morte, santa católica.

Catolicismo
O catolicismo chegou ao Brasil junto com os jesuítas e foi a religião oficial do país por muito tempo. A religião católica e o reino português se confundiam e dividiam a ocupação das terras brasileiras. O rei dominava depois que os jesuítas controlavam os nativos, em troca, a religião dos jesuítas conquistava o novo mundo. Foram os jesuítas que instalaram na Bahia e em todo o resto do país o catolicismo, aprovado pelo rei português, que sufocou o credo indígena. Desde a chegada de Manuel da Nóbrega em 1549, os jesuítas realizaram no Brasil a contra-reforma que pretendia recuperar os fiéis perdidos para o protestantismo na Europa, conquistando primeiro as almas dos indígenas e depois dos negros e mestiços.

Ainda em 1515 foi criado na Bahia o Primeiro Bispado do Brasil.  Na Bahia, os jesuítas criaram uma estrutura de dominação religiosa, econômica e educacional. Segundo Verger(1981) as famílias eram fieis praticantes da religião, ofertando consideráveis doações à igreja, que logo acumulou fortunas em bens e propriedades. As mais importantes famílias baianas tinham um filho padre que lhe conferia respeito e status. Os filhos das melhores famílias freqüentavam as escolas dos jesuítas e eram muito bem vistos por isso. Com o tempo, apenas os ricos podiam manter seus filhos estudando em escolas dirigidas pelos jesuítas que aplicavam a educação escolar mais valorizada pela sociedade baiana e brasileira.

Segundo Mattoso (1992), o catolicismo oficial instalado no Brasil era o das obrigações e castigos, baseado numa pesada rotina de purgação dos pecados adquiridos no nascimento. Ao lado desse catolicismo oficial havia uma religiosidade voltada para a devoção influenciada por outras crenças, principalmente as religiões africanas que estimulam a dança, os rituais e as procissões das festas católicas. Esta última se diferenciava por seu caráter leigo, familiar e socializador além da importância que atribuía aos santos o que era muito favorecido pela falta de padres e pela distancia da hierarquia. Nos séculos XVII e XVIII o cotidiano dos baianos estava impregnado do catolicismo.

Em quase todas as casas haviam oratórios nos quais as famílias faziam orações, no mínimo, três vezes por dia. Todas as festas, inclusive as civis, tinham traços religiosos como o tilintar de sinos e as missas festivas ficavam repletas de fieis praticantes. No Natal e no Dia de Reis entre outras festas populares de caráter religioso eram realizados em casas e nas ruas como, por exemplo, os bailes pastoris, bumba-meu-boi e a chegança.

Eram muito freqüentes as irmandades, confrarias e ordens terceiras formadas apenas por leigos e que pouco se preocupavam com os sacramentos. As primeiras congregavam fieis em torno da devoção de um santo escolhido, geralmente de um mesmo grupo, cor ou classe social. A Irmandade da MIsericórdia, de brancos da elite, foi fundada em 1550 na Bahia. A irmandade do Senhor Redentor da Bahia, fundada em 1752 era composta apenas por negros jejes, grupo étnico encontrado na Bahia. Algumas eram mais que entidades religiosas como a Irmandade da Boa Morte, formada por mulheres negras que tramavam e facilitavam a fuga de escravos durante as reuniões.

Essas tradições foram reprimidas com o tempo, principalmente pelo fato de que pouco consideravam os preceitos católicos baseados nos sacramentos e por não precisarem de autoridades religiosas como padres para realizarem suas atividades e recrutarem cada vez mais adeptos e devotos dos santos. Algumas delas ainda existem, mas por volta do século XIX já eram consideradas ultrapassadas. A hierarquia passou a recriminar e desvalorizar essas manifestações leigas autônomas que foram logo substituídas por grupos ligados diretamente ao clero como as diversas pastorais que levaram de volta para dentro da igreja e para debaixo do seu jugo o povo católico, afastando-o da superstição que impregnava o catolicismo do início do século XIX.

Protestantismo
O protestantismo era uma religião cristã de brancos dominante na Europa e na América do Norte, que proclamava uma salvação cristã diferente da católica que foi bem conhecida pelos baianos ainda na época da colônia. As igrejas protestantes se estabeleceram definitivamente no Brasil a partir da segunda metade do século XIX, primeiro no Sul do Brasil, depois nas outras regiões. Na Bahia, só no fim do mesmo século o protestantismo conseguiu se fixar fundando no estado a primeira Igreja Batista Nacional, desenvolvendo-se verdadeiramente no século XX.

A mensagem protestante era dirigida aos católicos livres, geralmente moradores do campo onde a ausência de sacerdotes tornava vulnerável a crença na religião católica e seus dogmas.  Segundo alguns autores o protestantismo atraia muitos católicos por permitir uma ligação direta com Deus através de orações sem a intermediação exercida no catolicismo pelo clero. Além disso valorizava o caminho para a felicidade eterna enquanto a igreja católica pregava uma vida de sofrimentos e privações que,mesmo assim, podia determinar a vida eterna no inferno.

No entanto, na Bahia onde as crenças se misturam e agradam o povo, o protestantismo foi muito radical. A conversão da nova fé sempre exigiu o abandono de crenças e praticas antigas como aquelas ligadas aos rituais do candomblé, largamente praticados pelos católicos baianos. Enquanto o catolicismo foi sempre tolerante a pratica dos cultos africanos, permitindo que fieis participassem de sus rituais e recebessem os sacramentos ao mesmo tempo. Além disso, o protestantismo exigia dos fiéis um comportamento radicalmente diferente do habitual que afasta o indivíduo do convívio social baseado nas festas e reuniões populares que sempre caracterizou o povo baiano.

Islã Africano
Segundo Mattoso(1992), os primeiros africanos islamizados chegaram à Bahia provavelmente no fim do século XVIII e início do século XIX. Eram negros haussas e iorubas oriundos da África Ocidental mais influenciada pela cultura islâmica e chamados mulsumis ou malês. Segundo Baptiste(1971), a maioria dos males vieram de tribos africanas de indivíduos puros ou mestiços com hamitas, portanto, islamizados e não mulçumanos de origem.

Desta forma não foi introduzida na Bahia um puro islamismo de Maomé, mas uma misstura desse ao animismo das crenças africanas. O islamismo nunca foi predominante entre os africanos na Bahia, no entanto, seus adeptos se distinguiam dos demais por diversos fatores. Por exemplo, o culto male inflluenciado pelo maometismo nunca se confundiu com outros cultos negros nem se deixou influenciar pelo catollicismo.

Os males davam grande importância à educação, à leitura e à escrita e os caracteres árabes eram ensinados pois era necessária a leitura do Alcorão para a religiosidade. O Alcorão era vendido no Rio de Janeiro e mesmo assim muitos adeptos o tinham e liam em casa ou em reuniões. Vários comportamentos dos islâmicos eram respeitados pelos adeptos baianos como a circunsisao dos meninos aos dez anos de idade e o jejum do Ramadã.

Os males se diferenciavam também pelo seu comportamento diurno e sem excessos, totalmente diferente dos outros grupos negros e sua liderança, sempre envolvida nas revoltas contra a escravidão, era letrada e se destacava entre os indivíduos da população pobre baiana, negra ou não. Por fim, a cor da roupa e os objetos simbólicos como amuletos mágicos identificavam os males com sua religião e separavam-os os ooutros grupos de negros.

Segundo Baptiste(1971), o culto male baiano possuía uma autoridade central chamada Limano e varias secundárias chamadas Alufás. Estes eram autoridades responsáveis pelas cerimônias das sextas-feiras e dias santos, cerimônias chamadas Sara, correspondente a missa dos católicos. Havia também cerimônia de casamento e culto aos mortos, o qual é estranho aos mulçumanos que não cultuam a morte. Segundo o mesmo autor e oooutros estudiosos das religiões baianas, não se sabe muito sobre as crenças e os dogmas da relligiao mulçumana na Bahia.

Os males eram considerados mestres da magia negra e temiam os djins, espécies de diabos, embora não acreditassem no inferno e no diabo em si. Cultuavam Maomé e adoravam Alá, seu Deus. Cultuavam os mortos e realizavam sacrifícios, rezavam cinco vezes ao dia. A religião muçulmana desapaeceu quase completamente em toda a Bahia. Segundo Baptiste(1971) em 1937, a União de Seitas Afro-brasileiras da Bahia tinha ainda um candomblé de uma nação muçulmana. Noentanto, apenas traços dessa religião erm mantidos como algumas palavras, expressões e orações inteiras usadas nos rituais como eram usadas nos momentos de oração dos Males.

Autores como Ramos(1979) concordam em algumas razoes para o fim do islamismo negro na Baha. Os males constituíam minoria dentre os negros de outras religiões; não desejavam e evitavam a convivência com outros escravos por não serem maometanos; flavam na língua do país de origem usando termos árabes e evitando o português. Para os outrosgrupos negros, os mlaometanos não eram irmãos nem companheiros e suas crenças foram aos poucos substituídas ou incorporadas (em pequena parte) pelos culltos gêge-nagô que predominavam no estado da Bahia.

Candomblé
Em todo o Nordeste, principalmente na Bahia, a influencia dos iorubas prevaleceu sobre todos os outros grupos, inclusive os daomeanos que chegaram a Bahia trazendo cada um sua religião própria. Com o passar do tempo esses diferentes grupos misturara-se física, social e religiosamente. No entanto, já no século XVIII, quando os cultos africanos começam a se organizar, os nagôs ou iorubas já eram maioria. Segundo Carneiro (1977) a relação que os cultos nagôs criavam com a terra de origem e com o catolicismo foram motivos primordiais para que se tornasse padrão para todas as religiões dos povos negros de toda a Bahia.

O candomblé é uma religião baiana, mas que reuniu em sua formação várias religiões negras de origem africana e crenças indígenas brasileiras. Para Siqueira (1994) é 'uma continuidade cultural africana, reelaborada na Bahia enquanto movimento da busca e reencontro de uma grande maioria de pessoas negras como um espaço de identidade e uma forma de enfrentamento da sociedade global. Mas também o local do culto aos Orixás e de revivência de mitos que falam da criação dôo mundo, do homem e suas relações entre si e com o mundo'.

Como culto religioso organizado, o candomblé tem como provável marco de inicio na Bahia a fundação do Candomblé do Engenho Novo, por volta de 1830, na cidade do Salvador. Na década de 80, o CEAO (Centro de Estudos Afro Orientais) afirmou a existência de 1350 terreiros de candomblé registrados na Federação Baiana de Cultos Afro Brasileiros, segundo Siqueira (1994).

No candomblé a existência humana se desenvolve simultaneamente no plano do aiê, mundo visível em que vivemos e no plano do orum, mundo do além. Segundo Mattoso(1992), o primeiro é o universo físico e o segundo é um espaço sobrenatural povoado por deuses e diferente do céu católico pois inclui tudo o que existe no plano físico, inclusive a terra e o céu. Para Santos(1986), o ase é a forca vital que impulsiona as práticas religiosas realizadas no aiê, ligando-o ao orum.

Segundo alguns autores o objetivo religioso do candomblé é permitir a presença dos Orixás, os deuses nagôs, entre os humanos. Os Orixás são identificados com elementos da natureza como água, vento, raio, trovão, e encarnam em pessoas escolhidas por eles a fim de conviver com os seus descendentes e ser reverenciados por eles. São exemplos Iemanjá, rainha das águas doces e salgadas, Xangô, senhor dos raios e trovoes, Iansã, senhora dos ventos e tempestades e Oxumaré que representa o arco-íris. Outros Orixás representam doenças como Omolu, proteção como Oxossi e Ogum, sentimentos como a vaidade representada por Oxum.

A divindade da Criação é Oxalá e Exu, criado dos Orixás é o mensageiro entre os homens e os deuses. (Magalhães, 1974). Os vôdúns jejes são essencialmente os mesmos que os Orixás nagôs, mas são menos conhecidos por seus nomes verdadeiros por serem menos populares. Segundo Carneiro (1978), candomblé é o nome dado aos locais onde os adeptos realizam seus rituais religiosos. No entanto, esse nome já designou qualquer festa de origem africana negra.

O candomblé é um misto de casa e local de festas e cultos, feito de barro e madeira, chão de barro batido e, às vezes, de cimento. Segundo Carneiro (1978), as paredes do candomblé não chegam ao teto e a casa geralmente possui grandes corredores de onde partem quartos diversos e numerosos, pouco ventilados e mal iluminados. O barracão é o local destinado às festas localizado nos fundos da casa (independente) ou faz parte dela. Em geral é retangular, com duas ou três portas e algumas janelas. Acima da porta principal há um chifre de boi, um arco ou uma quartilha de barro votiva em homenagem a divindade protetora da casa. Dentro do barracão diversos enfeites decoram o lugar e homenageiam os Orixás.

As casas maiores possuem ao redor do barracão vária casas pequenas chamadas assentos e destinadas aos Orixás. Uma é sempre de Exu e tem a porta trancada a cadeado, as outras são dedicadas aos Orixás protetores da casa. Alguns Orixás como Oxalá e Iemanjá não podem Ter assentos fora de casa. Nos terreiros, geralmente, há duas árvores sagradas amarradas com panos brancos, sendo uma a gameleira, sede do deus Iroko e a outra uma gameleira branca do orixá Apaoká.

A construção de um terreiro de candomblé é sempre precedida de um ritual onde o chefe da casa deposita nos alicerces da construção água dos axés, bichos de pena, moedas correntes, jornais do dia, água benta e flores. O candomblé é moradia de diversos fiéis desamparados. O chefe da casa, geralmente, não mora nela. Recebe visitas diariamente das filhas e filhos-de-santo e dos fiéis que oferecem sacrifícios e comidas aos seus orixás de devoção. Na Bahia, os candomblés são formados, em maioria, por descendentes de africanos, principalmente de mulheres.

Durante a realização dos cultos existem lugares específicos para todos os participantes. No fundo, há cadeiras e sofás para visitantes; ao lado, num cercado de madeira, o lugar dos atabaques; no lado oposto, um altar católico; no resto dos espaços junto as paredes, bandos para os diversos assistentes que se dividem por sexo e categoria. Segundo Carneiro (1978), numa cerimônia de candomblé são repetidos rituais há anos da mesma forma ou com pequenas modificações. Começa com a realização de sacrifícios de animais como galos, pombos e bodes em meio a cantos e danças sagradas.

Desses animais se retira o sangue que lava as pedras dos orixás consideradas sagradas. Logo depois é feito um despacho para Exu pedindo permissão para a realização dos rituais que irão se seguir. São oferecidas comidas e bebidas como azeite, farofa, água ou cachaça que devem ser lentamente jogados na porta do barracão, no lado de fora, pois Exu é considerado o homem da rua.

Em seguida as filhas-de-santo cantam e dançam para todos os orixás, havendo três cantigas para cada um deles. Tudo ocorre sob o comando da mãe ou pai-de-santo, autoridade religiosa máxima do terreiro, que pode, após essas homenagens, encerrar a cerimônia. No entanto, é mais comum que ocorram ainda as manifestações dos orixás através do corpo das suas filhas chamadas cavalos por serem usadas pelos orixás para a comunicação com os mortais. É o chamado 'baixar o santo'. Ao ser homenageado com suas músicas, um orixá manifesta-se no corpo de uma ou mais filhas-de-santo predestinadas a servir de cavalo especificamente a ele.

Ocorrem as manifestações de tantos orixás quantas músicas a elas sejam entoadas. Então, a mãe-de-santo ordena que sejam retirados do barracão e vestidos com roupas especiais e acessórios de cada orixá para voltarem ao barracão. Por exemplo, a filha de Xangô volta vestida de vermelho e brando, carregando nas mãos um machado em forma de T. Cada orixá dança sua música reverenciando a mãe da casa, abençoando as pessoas que a ele se dirigirem e curando moléstias se assim desejarem. Após a participação de todos os orixás, a mãe-de-santo costuma encerrar a cerimônia que dura horas.

A orquestra do candomblé é simples e composta de atabaque (ilu), agogô e cabaça. Os atabaques são considerados especiais para a invocação dos deuses. Alguns candomblés usam também o adjá. A iniciação das filhas-de-santo na Bahia segue os rituais da África como a reclusão no terreiro por um período de 17 dias, em média, abstinência de relações sexuais, rigorosa dieta, banhos rituais e epilação da cabeça. A cerimonia de iniciação chamada 'dia de dar o nome', marca o momento em que a filha está pronta para dedicar-se e receber seu orixá em cerimônias.

Para diversos autores, o candomblé é muito mais que manifestação religiosa negra e vai além do encontro místico entre mortais e deuses. Para Siqueira (1994), o candomblé é cultura negra de identidade que promove a requalificação social de seus adeptos num espaço mítico e ritual, o terreiro. Atualmente é movimento sócio-cultural-religioso que expressa a cultura negra de forma total. Na verdade, hoje, além de sede para cerimônias religiosas, nos terreiros realiza-se uma série de serviços sociais destinados às comunidades nas quais estão inseridos e fazem parte. São importantes exemplos as escolas e creches que incentivam a criação e a reprodução da arte e da cultura afro-baianas como as dos terreiros Ilê Axé Opô Afonjá e Ilê Axé Opô Aganju.

Religiosidade - Foto/Reprodução: Aratu Online
Religiosidade - Foto/Reprodução: Aratu Online
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