Tempestade - Cruzeiros - Navio navegando em alto mar

Tempestade: Cruzeiros viram pesadelo em alto-mar e acumulam críticas

Surto de vírus, overbooking e caos no embarque colocam MSC e Costa Cruzeiros no centro de polêmica na temporada 2025


Viagem dos sonhos ou cruzeiro do erro?

O que era para ser uma viagem de sonho virou um verdadeiro roteiro de pesadelo para centenas de passageiros nos primeiros meses de 2025. Entre surtos de infecção viral, filas intermináveis e embarques frustrados, os cruzeiros MSC Grandiosa e Energia On Board enfrentaram situações críticas que escancararam falhas no setor de turismo marítimo.

Com mais de cem infectados por norovírus e denúncias de overbooking, as duas gigantes do ramo — MSC Cruzeiros e Costa Cruzeiros — viram sua reputação despencar em sites como o Reclame Aqui, acumulando centenas de queixas e avaliações negativas. A temporada que prometia luxo e lazer acabou revelando um mar revolto de problemas.

“O oceano, que deveria ser símbolo de liberdade e descanso, se tornou um cárcere sanitário involuntário.”


Um surto em alto-mar: o caso do MSC Grandiosa

Em janeiro, a bordo do MSC Grandiosa, mais de 100 viajantes foram infectados por norovírus. O navio havia partido do Porto de Santos rumo ao nordeste do país, mas o que deveria ser um roteiro de férias virou uma verdadeira quarentena flutuante.

O surto foi oficialmente reconhecido pela Anvisa ao atingir mais de 2% dos embarcados, como determina o protocolo da temporada 2024-2025. Passageiros relataram sintomas severos, demora nas medidas de contenção e falhas nos cuidados sanitários. A tripulação, segundo relatos, pareceu despreparada e sem diretrizes claras, deixando os turistas desorientados e inseguros.

“Transformaram um cruzeiro de luxo em um cruzeiro sanitário.”


Overbooking em cruzeiro: o caos do Energia On Board

Do surto à superlotação, o episódio seguinte veio em março com o cruzeiro Energia On Board, da Costa Cruzeiros. O embarque no Porto de Santos foi marcado por filas de mais de 15 horas, discussões, choro de crianças e a constatação cruel: dezenas de famílias foram impedidas de embarcar devido ao overbooking.

A prática de vender mais passagens do que a capacidade do navio gerou revolta. Sem estrutura no porto para acolher os “excluídos”, a cena parecia um festival mal organizado: malas espalhadas, funcionários perdidos e consumidores revoltados, sob o sol e o cansaço de horas de espera.

“É como comprar ingresso para um show e descobrir na porta que seu lugar não existe.”


Reputações afundando: os dados do Reclame Aqui

Com os ânimos à flor da pele, os passageiros buscaram o Reclame Aqui. A MSC Cruzeiros acumulou 1.124 reclamações em seis meses, respondeu 77%, mas solucionou apenas 54,3% dos casos — com nota média de 5,6 em 10. Apenas 51,6% dos consumidores afirmaram que voltariam a fazer negócio com a empresa.

A Costa Cruzeiros teve desempenho semelhante: 368 reclamações, 100% respondidas, mas com solução em 52,6% dos casos. A nota média ficou em 6,0, com 51,4% de retorno positivo.

“A sensação é que os consumidores navegam sozinhos por mares revoltos de burocracia e desatenção.”


Onde está o glamour prometido?

Comercializados como experiências de conforto e sofisticação, os cruzeiros nacionais ainda enfrentam dificuldades básicas de operação. Os relatos desta temporada mostram que, por trás da cortina de shows, piscinas e restaurantes temáticos, existe uma engrenagem que falha — e que custa caro ao consumidor.

E o impacto não é só emocional: há prejuízos financeiros, frustração de férias planejadas com antecedência e, em alguns casos, risco à saúde. O turista brasileiro está pagando caro por promessas que, cada vez mais, estão ficando à deriva.


Redes sociais e desabafo público

Se antes a indignação ficava restrita às centrais de atendimento, agora ela navega em alta velocidade pelas redes sociais. Hashtags como #cruzeirodoerro e #vergonhademar reuniram vídeos de filas, quartos desorganizados, reclamações sobre alimentação e relatos de contaminação. A indignação viralizou.

Para uma indústria tão preocupada com a imagem, o marketing reverso nas redes é um problema real — e crescente. Consumidores frustrados se tornaram porta-vozes espontâneos de um turismo que precisa mudar.


E as autoridades?

A atuação dos órgãos reguladores tem sido pontual, quase sempre reativa. A Anvisa só declarou surto após o estrago estar feito. E quanto aos direitos dos consumidores? Muitos ainda enfrentam meses de espera por reembolsos ou compensações que nunca chegam.

Há um vácuo de fiscalização proativa no setor de cruzeiros. A complexidade jurídica dessas operações — muitas vezes sob bandeiras internacionais — também dificulta a responsabilização das companhias.


Turismo marítimo no Brasil: potência ou ilusão?

O Brasil tem potencial para ser referência em cruzeiros: costa extensa, portos estratégicos e clima favorável. Mas sem organização, sem protocolos claros e sem respeito ao consumidor, o que sobra é uma ilusão cara — vendida como luxo, mas entregue como incômodo.

Enquanto não houver investimento em qualidade, treinamento de equipes, controle sanitário e compromisso com o passageiro, o setor seguirá navegando em águas perigosas. Não pelo mar, mas pela falta de preparo.


Que tipo de experiência queremos oferecer?

Essa pergunta precisa ser feita por autoridades, empresas e consumidores. O turismo não pode ser reduzido a cifras ou à venda de pacotes. Ele carrega sonhos, expectativas e experiências que podem marcar positivamente — ou negativamente — uma vida.

O Brasil que se vende como destino precisa também se comprometer com a experiência entregue. Porque nenhum pôr do sol compensa uma noite maldormida em um navio com banheiro interditado por infecção viral.


Conclusão: o que aprendemos com a temporada 2025?

A temporada 2025 foi um alerta. Mostrou que cruzeiros no Brasil ainda carecem de maturidade operacional. Que empresas precisam ir além do discurso e olhar para o que de fato importa: o bem-estar dos passageiros. E que consumidores estão mais atentos, mais exigentes e mais dispostos a denunciar quando suas expectativas são traídas.

Se houver lição tirada desses episódios, talvez a próxima temporada traga não só navios maiores, mas também mais respeito, empatia e segurança a bordo.

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