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Reveillon na Praia de Copacabana - Foto: Porto Bay Hotels e Resorts- (Licença cc-by-sa-3.0) |
Principais Festas tradicionais da Cidade do Rio de Janeiro
O Ciclo Natalino
Como ocorre em todo o Brasil, o Natal no Estado do Rio de Janeiro suscita uma série de práticas, religiosas e profanas, públicas e privadas, inspiradas no fato bíblico do nascimento do Menino Deus.O Ciclo Natalino, que se estende de 24 de dezembro a 20 de janeiro, por assimilação das práticas devidas a São Sebastião, tem início com a Missa do Galo, celebrada nas igrejas católicas com grande participação dos fiéis. Persiste o costume de se armar presépios nas casas, nas igrejas e nas praças públicas.
A data da passagem do ano - chamada de Ano Novo ou Ano-Bom - é significativa pelas formas de celebração que dominam os diferentes segmentos da sociedade fluminense. Merecem destaque as festividades em honra de lemanjá, promovidas por umbandistas nas praias do litoral fluminense com cânticos, danças e toques rítmicos, bem como a queima de fogos na Praia de Cobacabana.
Nas comemorações do Ciclo Natalino, segue-se o Dia dos Santos Reis, cultuado pelo calendário cristão. Além das homenagens especiais dos grupos de folias de reis, há hábitos tradicionais referentes a essa celebração. Assim é o da confecção do Bolo de Reis, que leva quatro prendas misturadas à massa comum: um anel, uma cruz, uma moeda e um dedal. Ao ser repartido, causa muita curiosidade descobrir as pessoas agraciadas com as prendas: o anel significa casamento; a cruz, convento; a moeda, dinheiro e o dedal, trabalho.
Por influência da devoção a São Sebastião, padroeiro da cidade do Rio de Janeiro, o ciclo do Natal é prorrogado em todo o Estado até 20 de janeiro, dia a ele dedicado. Motivados por essa devoção, os numerosos grupos de folias de reis passam a sair, a partir do dia 7 de janeiro, com estampas e outros elementos ligados a São Sebastião incorporados à sua bandeira. Também os grupos de pastorinhas, outrora numerosos e hoje presente apenas no município de Santo Antônio de Pádua, prorrogam sua saída até 20 de janeiro.
Ano Novo (Reveillon)
A passagem do ano, noite de 31 de dezembro para 1º de janeiro, inserida no Ciclo Natalino, é marcada por variadas comemorações. Denominado ANO NOVO ou ANO BOM, o acontecimento significa o renascer, a renovação da esperança de um ano feliz, simbolizado na troca de votos de 'boas entradas e nos bons augúrios ao alvorecer de uma nova vida. Nos lares, nos clubes sociais e nas vias públicas, o romper do primeiro dia do ano é esperado em meio a grande alegria, entre cantos de 'adeus ano velho', 'feliz ano novo', brindes libatórios, acompanhados de saudações efusivas, danças, espocar de fogos e, característica muito fluminense, a soltura de balões comemorativos.
Associada aos festejos do Ano Novo, realiza-se importante manifestação popular, o culto negro-fetichista tributado a Iemanjá, divindade das religiões afro-brasileiras candomblé e umbanda. Considerada mãe de todos os orixás, Iemanjá simboliza a mãe e a mulher, representando a procriação, a gestação. Protege, castiga, defende, mata e às vezes se apaixona, levando os amantes para o fundo do mar, seu 'habitat'. Na umbanda fluminense suas cores são o azul e o branco, sendo sábado o dia a ela consagrado. Sincretizada com Nossa Senhora da Glória, no Rio de Janeiro, e com outras invocações da Virgem Maria, Iemanjá, também conhecida como Janaína, Sereia, Rainha, Princesa do mar e outras designações, é festejada a 15 de agosto e também a 31 de dezembro; a 2 de fevereiro (junto com Oxum, orixá dos rios), por baianos residentes no Rio e participantes do candomblé.
Na passagem do Ano Novo, os grupos umbandistas realizam seus cultos à Rainha das Águas, espalhados por toda a orla marítima fluminense, especialmente na região do Grande Rio. Às praias acorrem milhares de pessoas e crentes misturam-se a curiosos de diferentes condições sociais, atraídos pela beleza visual do espetáculo de fé popular. Os umbandistas, com trajes ritualísticos de orixás, babalorixás, mães-de-santo, filhos-de-santo e outros, se agrupam por terreiros, dispostos em círculo, às centenas, em toda a extensão das praias.
Milhares de velas ardem sobre a areia em escavações preparadas para protegerem a chama dos ventos. São espalhados, em profusão, ramalhetes de flores alvas sobre a areia e, ainda, lançados às águas do mar como oferta a Iemanjá. Barquinhos ricamente ornamentados com flores e cheios de presentes – espelhos, frascos de perfume, fitas, rendas, caixinhas de pó-de-arroz e até jóias – são lançados ao mar como ato votivo e propiciatório a Iemanjá, a Sereia-Rainha dos mares e das águas.
Carnaval Carioca
Tida como uma das mais importantes festas populares, o carnaval chegou ao Brasil pelos portos do Rio de Janeiro, trazido pelos primeiros colonizadores. Aqui incorporou outras influências, adquirindo cores e matizes especiais, transformando-se no carnaval verdadeiramente brasileiros. O entrudo lusitano, segundo alguns autores, desenvolveu-se muito com a participação do negro escravo, assumindo até formas elaboradas com o mesmo intuito de molhar, sujar, perseguir os transeuntes. Baldes d'água, limões de cheiro, seringas d'água, presentes nas primeiras décadas do século XX, desapareceram das ruas cariocas com o passar dos anos, cedendo lugar a outras formas de celebração, impregnadas do mesmo espírito brincalhão e cético, característico desse período festivo.
Dentre os principais grupos folclóricos destaca-se o boi pintadinho, que brinca acompanhando-se da mulinha, do Jaraguá, do toureiro, de Pai João e Mãe Maria, de caretões. Esse folguedo costuma fazer parte dos desfiles de carnaval, abrindo o imenso cortejo integrado por escolas de samba e blocos. Outro grupo folclórico tradicional, encontrado no norte e noroeste fluminense, é o mineiro-pau com os participantes desenvolvendo intrincada coreografia, fundamentada em batidas de bastões de madeira que os dançadores trazem à mão. No interior observa-se ainda grande variedade de blocos com as mais diversas motivações. O Bloco Unidos do Veloso, de Bom Jardim, sempre se inspira em acontecimentos políticos e a ele se junta o Bloco das Piranhas e todas as pessoas que se mascaram e fantasiam.
Corpus Christi
Celebração da Igreja Católica que ocorre na segunda quinta-feira após o Domingo de Pentecostes (Divino Espírito Santo), a procissão de Corpus Christi – Corpo de Deus – teve no Papa Urbano IV um grande incentivador. Seu propósito inicial era propagar a Jesus Cristo através da Eucaristia e pedir perdão a Deus pelos hereges que negavam o milagre da hóstia sagrada. 'Em Portugal (as celebrações) datam do século XIII (Teófilo Braga) com o máximo esplendor de tropas, fidalgos, cavaleiros, andores, danças, cantos' (Cascudo, 1979).
O primeiro relato que tem no Brasil consta de uma carta de 9 de agosto de 1549, em que o Padre Manoel da Nóbrega, da Bahia, informava: 'Outra procissão se fez dia de Corpus Christi, mui solene, em que jogou toda artilharia que estava na cerca, as ruas muito enramadas, houve danças e invenções à maneira de Portugal'.
Na Cidade do Rio de Janeiro, a primeira procissão foi realizada em 16 de junho de 1808 e teve como seu mais ilustre acompanhante o então Regente, Príncipe D. João, seguido de toda a Corte. Esse costume não demorou a se estender por toda a Colônia, com procissões em que a hóstia consagrada era levada sob o pálio e este carregado por membros das irmandades religiosas e pelas autoridades. Em inúmeras cidades a população colocava nas janelas talhas brancas de linho ou renda e ornamentava as ruas com plantas e flores, como até hoje se faz.
Festa de Nossa Semhora da Penha
Alguns estudiosos indicam o sul da França como o local de sua irradiação, outros afirmam que essa devoção nasceu em Salamanca, na Espanha. O que a Irmandade informa a respeito é também versão dominante em Portugal: Antônio Simões, escultor, vendo que o exército de el-rei D. Sebastião, de Portugal, do qual fazia parte, seria derrotado em Alcácer-Quibir (1578), prometeu, se salvo chegasse a Lisboa, fazer sete imagens e a todas dar destino e invocações diferentes. Quando esculpia a sétima imagem, encontrou-se casualmente com Frei Inácio Martins, que sugeriu-lhe a designação de Nossa Senhora da Penha de França, santa da devoção do religioso e por ele acabada de visitar nos subúrbios de Salamanca, numa gruta natural da Serra de Castela. Essa imagem fora descoberta naquele local em 1434 pelo francês Simon Vela, levado até ali pela revelação recebida de Nossa Senhora, em França'.
O mês de outubro contempla e é contemplado por uma comemoração das mais tradicionais da Cidade do Rio de Janeiro. Misto de contrição religiosa e festividade laica, a Festa da Penha afirma-se como um dos pontos altos da expressiva aclamação popular.
Elegante santuário situado no cimo de um outeiro de pedra, a Igreja da Penha, que empresta seu nome ao bairro homônimo, situado na Zona Norte, teve sua primeira edificação em 1635. Era de aspecto rústico e compunha-se de uma reduzida capela-mor em semicírculo, medindo cinco metros de comprimento por três de largura. A que de deve a construção dessa antiga capela no alto de um outeiro de difícil acesso e subida íngreme? Há uma lenda, que se desmembrou em muitas outras pela transmissão oral, dando-nos conta de que um caçador (provavelmente o Capitão Baltazar de Abreu Cardoso, proprietário de uma Quinta, dentro da qual se achava o penhasco), em incursão pelas matas que circundavam o rochedo, defrontou-se com uma enorme cobra. Lívido de pavor, invocou a santa de sua devoção: Valha-me Nossa Senhora da Penha! Imediatamente surgiu um grande lagarto que se atirou sobre o réptil e, açotando-o com a cauda, o afugentou. Reconhecendo no fato uma intervenção miraculosa, ali mesmo o caçador fez a promessa de erguer, no alto do rochedo, uma capela em homenagem a Nossa Senhora da Penha.
O santuário que todo o bairro contempla e que pode ser visto, majestoso, da ponte Rio-Niterói, foi erguido em 1871 atendendo à necessidade de acomodar mais fiéis durante a celebração dos ofícios religiosos. O interior do templo é simples. No altar situado na capela-mor está entronizada a imagem da santa, circundada por anjos. Aos lados do altar vêem-se São José e São Joaquim, respectivamente esposo e pai da Virgem Maria. Ao centro, Santa Ana em companhia de sua filha, Nossa Senhora Menina. Nos fundos da igreja, encontra-se a sacristia onde está armado o primitivo altar no qual se acha exposta a imagem de Nossa Senhora do Rosário. A devoção a Nossa Senhora da Penha existe em quase todo o Brasil.
Festa de Santo Amaro
No mês de janeiro, época que marca o término da safra e o início da plantação da cana-de-açúcar, realiza-se em Santo Amaro, distrito de Campos dos Goytacazes, uma tradicional festa em homenagem ao santo padroeiro. Em muitos aspectos semelhantes às festas de padroeiro do interior fluminense, ela tem a peculiaridade de apresentar, como parte da programação, um torneiro de cavalhadas, que revive a cada ano uma antiga tradição local. A festa culmina no dia 15, dia de Santo Amaro, e congrega em torno da devoção ao Santo os moradores do povoado e das localidades vizinhas, muitos dos quais comprometidos como pagamento de promessa por graças recebidas.
A igreja de Santo Amaro centraliza as atividades. É uma das mais antigas da região e se originou de uma capela construída no início do século XVIII, em torno da qual se desenvolveu o povoado. Este é o registro histórico, mas uma lenda que circula entre os moradores estabelece vinculações mais profundas entre o Santo, sua igreja e o povo devoto.