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Beleza e plasticidade do Afoxé enraizado na cultura negra

 18/02/2018  |  Postado por: Ramon Andrade
Afoxé Filhos de Gandhy - Foto: Eduardo Martins (Ag. A Tarde-Veja)
Afoxé Filhos de Gandhy - Foto: Eduardo Martins (Ag. A Tarde-Veja)

Um dos mais famosos grupos de afoxé do Brasil é o 'Filhos de Gandhy', que saem às ruas em cortejo tradicionalmente em desfile carnavalesco, reunindo um grande número de afro-descendentes, religiosos e simpatizantes dando-lhes a oportunidade de relembrar a cultura, os aspectos místicos e mágicos de seus ancestrais.

Esta belíssima manifestação folclórica tem como caracterização sobretudo pela figura central – o babalawô ou baba-oni-awô - o pai conhecedor do futuro, dos destinos, iniciado nos mistérios do jogo oracular, acompanhado de seus “ajudantes”, em torno dos quais se desenvolve toda a atividade lúdica do grupo. Originado do iorubá, a palavra afoxé pode ter como significado 'o enunciado que faz acontecer'.

Conforme alguns pesquisadores, poderia ser uma forma diversa do maracatu. O termo afoxé da África denota a festa profano-religiosa efetuada pela nação no momento oportuno, a qual é manifestada através do ritmo Ijechá.

A conhecida expressão afoxé teve o seu uso restrito, apenas entre os seus colaboradores partícipes, em virtude de seus autores dedicados ao estudo do maracatu não o terem registrado. Pode ser definido tambem como uma brincadeira de forma, conteúdo e comportamento específicos, pois os seus membros-foliões estão vinculados a um terreiro de candomblé, unidos por uma religião, pelo uso da língua, da dança, do ritmo e dos códigos de origem nagô.

Um dos mais famosos grupos de afoxé do Brasil é o 'Filhos de Gandhy', que saem às ruas em cortejo tradicionalmente em desfile carnavalesco, reunindo um grande número de afro-descendentes, religiosos e simpatizantes dando-lhes a oportunidade de relembrar a cultura, os aspectos místicos e mágicos de seus ancestrais.

O afoxé Filhos de Gandhy, foi fundado por estivadores portuários da cidade de Salvador em 18 de fevereiro de 1949, tornando-se o maior e mais belo Afoxé do Carnaval de Salvador-Ba. Constituído exclusivamente por homens e inspirado nos princípios de não violência e paz do ativista indiano Mahatma Gandhi, o bloco traz a tradição da religião africana ritmada pelo agogô nos seus cânticos de Ijexá na língua Iorubá.

Nas suas fantasias, utilizam lençóis e toalhas na cor branca, como simbolo das vestes indianas. Hoje com aproximadamente mais de 10.000 integrantes, é considerado o mais famoso e o maior dos Afoxés do Brasil. Além do turbante e das vestimentas, a 'fantasia', contém um perfume de alfazema e colares azul e branco. Os colares já são conhecidos por 'colar dos filhos de Ghandy', que são presenteados durante o cortejo, aos admiradores objetivando desejar-lhes paz durante o carnaval.

As cores dos colares tem uma grande importãncia e significado, pois fazem referência a paz pelo que, o afoxé enfoca Oxalá que é o Orixá maior. Os colares estão nas cores branco e o azul de forma intercalada.  O fio-de-contas do Oxalá menino, o Oxaguiam, tem a seguinte correspondencia: o branco a 'Oxalufon' seu pai e o azul a 'Ogum' de quem é inseparável; as contas são amuletos da sorte. E cada um usa de acordo com a indumentária, da maneira que se achar elegante, não existe quantidade fixa de contas para cada colar, nem quantidade de colares que se deve usar.

A força desses blocos esta enraizada na cultura negra, na beleza e plasticidade de sua harmonia. Eles representam a força viva da negritude fazendo ecoar por todos os cantos,o seu grito de liberdade. As músicas que são entoadas nos cortejos dos afoxés são basicamente as mesmas melodias ou orôs entoados também nos terreiros afro-brasileiros, seguindo fielmente a linha ijexá.

O Afoxé, está muito longe de ser apenas um bloco carnavalesco como as pessoas assim imaginam. Ele carrega uma profunda vinculação com as manifestações religiosas dos terreiros de candomblé. Daí, o fato de denominar o afoxé, como 'Candomblé de rua'.

O ritmo de sua dança na rua é igual à dos terreiros. Os cânticos são puxados em solo, por um membro de destaque no grupo, e são também cantados repetidamente por todos. Antes da saída do grupo, é realizado um ritual religioso exatamente igual a cerimônia do 'padê de Exu' que e realizada antes do início dos ritos aos orixás no terreiro de candomblé.

O espírito satírico ocorre constantemente durante essas apresentações. É comum se observar troças que criticam os babalaôs jogando búzios, imitação dos negros nagôs com as marcas tribais no rosto e dos trabalhos braçais desempenhados pelos negros.

As proposições dos afoxés e dos seus participantes modificam-se de grupo para grupo. O afoxé em Fortaleza é exclusivamente baseado em preceitos religiosos, constituindo-se assim numa complexa liturgia. Já o grupo de afoxé da cidade do Rio de Janeiro, também denominados de Filhos de Gandhi, basea-se exclusivamente nos preceitos do ritual ijexá.

Os laços lúdico-religiosos que congregam as pessoas nos afoxés, importam antes de tudo pelo fortalecimento e pela manutenção dos valores culturais, pertinentes ao afoxé e suas tradições negro-africanas, transportadas para o Brasil, sendo adaptadas e com o tempo, assimiladas dentro de uma nova realidade cultural.

No estado de Pernambuco, o afoxé ressurgiu através do 'Movimento Negro Unificado' já no final da década de 1970, objetivando se fazer chegar à maioria da população, o debate sobre consciência negra, por intermédio da música.  O ijexá se tornou popular e consequentemente muito conhecido em todo o Brasil, em razão da atuação do grupo baiano 'Filhos de Gandhi'. Cantores renomados, como Gilberto Gil, Maria Bethânia e Caetano Veloso, também interpretam músicas no ritmo ijexá, contribuindo cada vez mais, para a difusão do ritmo.

Os grupos de Afoxé podem ser encontrados em diversas cidades brasileiras, como Belo Horizonte, Fortaleza, Olinda, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Nos anos 1980, havia um grupo em Belo Horizonte, o 'Afoxé Ilê Odara', apadrinhado por Gilberto Gil e fundado pela iyalorixá Oneida Maria da Silva Oliveira, a Mãe Gigi (in memoriun). O afoxé foi extinto após sua morte e desfilou pela última vez, no ano de 1988.

Já em Ribeirão Preto-SP, o 'Afoxé Ómò Orunmila' iniciou sua participação no carnaval de rua nos anos de 1990, sob iniciativa do Centro Cultural Orunmilá, que tem a função de resistência cultural ante as tentativas de dominação da cultura negra pela cultura ocidental e, de preservação dos laços negros e afrodescentes do carnaval de rua, bem como, seus espetáculos e suas agremiações carnavalescas locais.

Fonte de pesquisa: Wikipédia e Secult-Ba

Por: Ramon Andrade
Salvador / BA
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Regente de Filhos de Gandhy - Foto: Eduardo Martins(Ag. A Tarde-VEJA)
Filhos de Gandhy no Circuito Barra - Salvador-Ba - Foto: Rita Conrado
Instrumento Afoxé de Cabaça - Foto: Divulgação
Instrumento Afoxé de Cabaça - Foto: Divulgação
Ylê de Egbá - Recife-PE - Foto: Empetur
Filhos de Oya-Fortaleza-CE - Foto: Divulgação
Filhos de Oya-Fortaleza-CE - Foto: Divulgação
Filhos da Coroa de Dadá - São Paulo-SP - Foto: Filipe Araújo (Fotos Públicas)
Filhos de Gandhi - Rio-RJ - Foto: Divulgacao-Maze Mixo
Afoxé Filhos de Korin-Efan - Salvador-Ba - Foto: G1 Bahia
Filhos de Jorin Efan - Salvador-Ba - Foto: Jenypher Pereira (Varela Notí­cias)
Filhas de Olorum -Salvador-Ba- Foto: Rita Barreto-Setur-Ba
Filhas de Olorum -Salvador-Ba- Foto: Rita Barreto-Setur-Ba
Tapete branco dos Filhos de Gandhy - Foto: Flavio Ciro
Saída cortejo Filhos de Gandhy - Foto: Sucom-Ba
Filhos de Gandhy - Foto: Sucom-Ba
Filhos de Gandhy - Ritual saída do Cortejo - Foto: Sucom-Ba
Filhos de Gandhy - Ritual saída do Cortejo - Foto: Sucom-Ba
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